quarta-feira, 30 de março de 2011

O Mensageiro de 1905

Algumas notícias do ano de 1905 que foram reeditadas no Mensageiro de Dezembro de 1930 (nº 151) retiradas da edição nº 6, 7 e 8.

Novos Missionários - "Pelos vapores Thames e Danube, chegaram a Lisboa respectivamente em 9 e 23 do corrente (Outubro de 1905), os novos missionários sr. Carlos A. Swan, sua espôsa e filhos e o sr. Roberto MacGregor, que veem cooperar conosco na obra do evangelho".

Brasil - Niteroy - "Em 16 de Setembro (de 1905) realisou-se o casamento civil e evangelico do nosso estimado irmão sr. Luiz Fernandes Braga, com a srª D. Marta de Souza Lobo. Celebrou o acto religioso o pastor sr. Leonidas da Silva. 

Casamento - "Participa-nos seu casamento com a srª D. Concha Barrio Palenciano, o nosso prezado irmão sr. Joaquim Rodrigues da Silva Leite Junior, actualmente advogado de provisão em Coimbra".

Casamento - " Em 1 do corrente (Dezembro de 1905) realisou-se na administração do concelho de Agueda o casamento do estimado irmão sr. Modesto Fernandes com a srª D. Amelia Alves Abrantes. Foi este o primeiro registo civil realizado neste concelho".

Julgamento - "Desde a última Páscoa, quando alguns cristãos evangelicos do logar de Aguada de Cima se recusaram a dar o folar ao padre da freguezia, não tem este deixado de procurar meio de se vingar, para o que lançou mão de uma vélhinha, a nossa irmã srª Maria Baptista, e processou-a pelo suposto crime de ofensas à religião do Estado. O julgamento teve logar em 20 do corrente no tribunal de Agueda, e o juiz, tendo censurado o procedimento do padre acusador, acabou por absolver a nossa irmã".

Prisão de dois obreiros evangelicos - "Tendo-se apresentado voluntariamente às auctoridades deram entrada na cadeia de Cantanhede em 11 do corrente (Dezembro de 1905), o evangelista sr. Manoel dos Santos Carvalho, , e em 13, o professor sr. José Rodrigues Nóbrega, os quais se acham processados pelo crime de dirigirem em Portunhos o entêrro evangelico do sr. Jacinto Figueiredo Nobre. O evangelista sr. J. A. Santos e Silva partiu para Cantanhede de visita aos irmãos presos, onde chegou em 14 do corrente mez, e no dia 16 eram os nossos irmãos afiançados e postos em liberdade deixando na cadeia a semente da Palavra de Deus entre os presos, com quem cantavam hinos e falavam do Evangelho".


In O Mensageiro (nº 151)
Lisboa, Dezembro de 1930


Inauguração da sala de culto ampliada da Igreja Ev. Chelense

Em 17 de Setembro de 1933 foi inaugurada a nova sala de culto. Houve antes um serviço dedicado à Escola Dominical pelo sr. Dr. Ernesto Moreira, que fez um edificante discurso.
Seguidamente, o pastor Santos e Silva deu principio ao culto de acção de graças, fazendo um apropriado sermão sobre a Casa de Deus. Discursaram os srs. Roberto Moreton e Pr. Eduardo Moreira. Foram lidas saudações de vários irmãos. A assistencia era numerosa. 
Série de conferencias. À inauguração da nova sala de cultos seguiu-se uma série de conferencias evangelicas, dirigidas por vários oradores, que foram bem assistidas.
Profissões de fé e baptismo. Duas novas irmãs fizeram sua publica profissão de fé e receberam o baptismo da ordenança para todo o que crê, no culto de domingo, 19 de Novembro, sendo as sr.ªs D. Maria do Rosario Amaral e D. Principlina do Carmo. 
Que jamais esqueçam a exortação do Senhor Jesus: "Sê fiel até à morte e eu te darei a corôa da vida."
Aniversarios da Igreja e da Sociedade de Senhoras. Em 12 de Novembro, celebraram em conjunto, os seus aniversarios, a Igreja Evangelica Chelense e a Sociedade de Senhoras da mesma igreja. Foi uma sessão muito modesta, em que se renderam graças ao Senhor da Messe por todas as suas muitas bençãos, e o pastor relatou os factos mais notaveis do movimento espiritual e material da Igreja, terminando com um apêlo para que sem perda de tempo, se constitua, de entre os homens e senhoras crentes, uma comissão de voluntarios da propaganda, para ter-se sempre cheia a nova sala.
usaram tambem da palavra os irmãos srs. Artur de Araujo e Joaquim D'Almeida e Silva, em ons termos de animação e incentivo.
A Sociedade de Senhoras, cuja presidente srª D. Filomena de Jesus Dias, tomou lugar na mesa para dirigir a segunda parte da sessão, iniciou então os seus trabalhos, com oração pela vice-presidente, srª D. Eugenia de Jesus Pinto, seguindo-se a leitura dum trecho do Novo Testamento pela secretaria srª D. Benta Aurora Duarte que pediu ao pastor para falar sobre a lição dos talentos, o qual explicou o sentido espiritual da parabola, e da lição de economia domestica que tambem daqui se tira, que, uma vez posta em pratica por todos os crentes, não haveria nenhum que não pudesse contribuir com alguma coisa para a Obra do Senhor. Foi ainda apresentado pela secretaria o relatorio pela tesoureira, s srª D. Ana da Piedade Barata, o mapa de contas do ultimo ano de gerencia, acusando um pequeno deficit. 
Procedendo-se À recolha do produto dos talentos distribuidos o ano anterior, achou-se que o total, com as ofertas da ocasião, foi cêrca de Esc. 550$00.
Terminou a sessão com acções de graças ao Senhor, sendo depois servido o costumado chá de confraternisação. 

In  O Mensageiro nº 159
Lisboa, 10 de Janeiro de 1934

Primórdios da Congregação em Ponte de Sôr

Continuamos trabalhando para a edificação do nosso templo, mas os recursos, por enquanto, não nos permitem dar começo ao trabalho de alvenaria.
No fim de umas das reuniões dirigidas aqui pelo nosso estimado superintendente, um cavalheiro disse-lhe ser necessário abreviarmos a construção do nosso templo porque muitas pessoas desejavam assistir as nossas reuniões e não podiam.
Queridos irmãos, apelamos para o vosso generoso auxílio a fim de que essa oportunidade não passe e muitas almas possam ouvir a mensagem da salvação. Escutai o seu clamor e assim contribuireis para que muitos se rendam à evidência do amor de Deus em nosso Senhor Jesus Cristo.
Roma procura a todo transe, apossar-se das almas ingénuas, que, quais ovelhinhas sem pastor, andam errantes no laberinto da confusão para onde uma falsa religião as tem lançado.
Os jornais registam quasi diariamente, factos que nos espantam. 
Vendo Roma que seus cofres não estão suficientemente cheios, pretende agora incutir na mente das pobres creaturas fanáticas o terror pelo aparecimento de espíritos de creaturas que já faleceram e que, segundo eles dizem, não pagaram certas promessas, sendo necessário pagá-las quanto antes a fim de que suas almas se salvem, trazendo por êste facto aterrorizadas as povoações de Arreciadas, Salvadorinho, S. Miguel do Rio Torto e Comenda, tendo já um jornal diário pedido providencias às autoridades competentes sôbre o que se tem passado n'esta última povoação a fim de meter na cadeia todos êsses espíritos para que não tornem a aparecer...
Também nós aqui levantamos o nosso protesto e pedimos providencias a quem competir. Somos, por vezes, insultados por desejarmos conduzir o povo pelo caminho da verdade, que é Cristo, e assim podermos ver a nossa Pátria erguer-se desta decadencia moral em que há longos anos se encontra.

A. S. Ramos

In O Mensageiro
Junho de 1930

terça-feira, 22 de março de 2011

AMÉLIA MARQUES FELIX

Trecho de uma carta do Rev. J. A. Santos Silva:

Accrescentarei às noticias do Campo do Leste da Missão Evangelizadora, o caso do recente fallecimento da irmã Amélia Marques Felix, antiga obreira da nossa Missão. Ella trabalhou até aos últmos dias. Contava (?*) annos de idade. O trabalho no Rocio de Abrantes foi começado por ella, em reuniões de caracter doméstico, ha  uns 30 annos. Soffria muito naquelle tempo. Era considerada como tendo parte com o diabo, e causadora de todas as calamidades e desgraças que se davam naquella vila e arredores. Foi apedrejada e ameaçada de morte, mas tinha a grande virtude da perseverança: Orava constantemente ao Senhor para que o Evangelho entrasse e se arraigasse  nos corações. teve depois a cooperação de alguns irmãos que ali foram, e, pela graça de Deus, viu triumphar a Verdade, e Christo foi exaltado na conversão de algumas almas, que hoje ainda bemdizem a ida da saudosa irmã D. Amélia para aquella terra. Trabalhou por muitos annos na Obra do Senhor no Rocio e na Ponte de Sor, e por último, também em São Miguel do Rio Torto. Dormiu no Senhor em 3 de Dezembro. O ser enterro foi uma grande manifestação de sympathia e saudade, indo irmãos de fóra, das congregações annexas à igreja Rociense.
Dirigiu o serviço religioso o Pastor desta igreja. Houve bom testemunho mesmo da parte de incredulos.
Glória seja ao bemdito Salvador e Mestre. - (As.) J. A Santos e Silva 

* Esta parte do texto está ilegível.

14 de Novembro de 1914

O irmão Sr. José Augusto noticia-nos que toda a nação anda com exaltação de espíritos por causa da guerra europeia, e por causa da tropa que já foi para África, fronteira Allemã, e que está se preparando para mobilização!
Eu tenho tido reuniões geraes de crentes de todas as igrejas, e missões Evangélicas, para oração pela paz, na Associação Christã da Mocidade, em que no dia 7 de Setembro, oraram 0 irmãos fervorosamente.
O Sr. Carvalho está doente, o médico acha-o muito fraco, está a leite.
Pretendo ir para  a Beira Alta, a leste.
D. Amélia Fely, do Rocio de Abrantes, que esteve em Braga, tem tido reuniões para mulheres na Ponte de Sôr.


in Cristão
Rosa Batista

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Robert Reid Kalley (Infância e Juventude (1809 a 1838) - parte 3

No dia 5 de Dezembro viajou para Paisley, onde pediu a mão de Margarida em casamento. Era a jovem que havia conhecido em 1833. Sobre ela e seu pretendido enlace havia conversado com o secretário da Sociedade. Seria conveniente que ela ficasse por algum tempo em alguma instituição de ensino bíblico e missionário enquanto ele completava seus cursos adicionais no Hospital e na Universidade. A respeito de Margarida, o Doutor escreve:

Ela desejava ardentemente entrar para o serviço de Cristo, ou ensinando ou em qualquer outra atividade em que seus talentos pudessem ser aproveitados. Consente no casamento e sua mãe também.
É uma jovem bem capacitada para o trabalho missionário. Possui fina educação. Tem servido como secretária do pai em seus negócios.
Dotada de gênio muito alegre, é consagrada e tem visão da obra de Missões.
Quanto ao físico, não é muito robusta e não seria capaz, creio eu, de enfrentar as durezas de alguns campos missionários. Foi criada com muito conforto. Espero, porém, que, embora delicada, sua estrutura seja perfeitamente sã e se dê bem em clima suava.
Seus poderes intelectuais a capacitam para os trabalhos de tradução ou qualquer atividade que se relacione com o redigir ou escrever, como também com o ensino, direção de escolas etc
.
O consultório de Kilmarnock, assim com seus clientes, ficaram, após a venda, aos cuidados de um jovem médico, seu amigo, que mais tarde se tornaria também seu cunhado, pois veio a casar-se com Jane Kalley.
A 9 de janeiro de 1838 foi convidado para fazer uma palestra numa das reuniões da Sociedade Missionária da Escócia, onde falou sobre a China e a urgente necessidade da pregação do evangelho no Extremo Oriente da Ásia. Essa palestra constitui-se na chamada divina para um dos seus ouvintes, que resolveu oferecer-se ao Senhor para o trabalho missionário naquele país. Foi o renomado missionário William Chalmers Burns, que realizou uma obra de incalculável valor na abertura de preciosas portas de penetração do evangelho naquele território. É interessante saber que a vida do Dr. Burns, sua grande piedade cristã e a sua amizade muito ajudaram Hudson Taylor em seu abençoado ministério. Taylor, por sua vez, se tornaria grande amigo, mais tarde, de Kalley e de D. Sarah, sua segunda esposa, fazendo o sermão de despedida no dia do enterro do Doutor, em 24 de janeiro de 1888, e estando entre os fundadores, ao lado de D. Sarah, Rev. James Fanstone, Dr. João Gomes da Rocha e mais oito companheiros, de Help for Brazil Mission, que sob inspiração de D. Sarah e do Rev. Fanstone se organizou em Edimburgo, em 1892.
Em uma reunião de despedida a seus amigos e clientes, solicitou encarecidamente suas orações, tanto na Igreja como nos lares, por ele e pela China. Mal supunha, porém, que os desígnios de Deus, que chama seus obreiros e lhes designa os campos, não o levariam para a China, conforme seus projetos pessoais.
Miss Margarida, de seu lado, preparava-se também para os deveres de esposa e auxiliar do missionário. Ela mesma sentia o apelo das Missões. O ministro da Igreja Escocesa, pastor de sua igreja em Paisley, escreveu a seu respeito:
Fora batizada por mim e criada na minha congregação. Assistiu às classes bíblicas para instrução da juventude por vários anos. Assim estava bem versada no conhecimento das Escrituras. É profundamente evangélica e possuidora de uma alma piedosa. Seu coração está fixo na obra missionária, para a qual a considero bem capacitada.
Nessa preparação para a obra ao lado do Doutor, mudou-se para Glasgow, onde pretendia tirar alguns cursos. Hospedou-se em casa de amigos. Era no mês de janeiro, tempo de frio muito intenso naquela região. Uma noite, alguém, por descuido, deixou aberta uma janela. O resultado foi Miss Margarida contrair uma forte pneumonia, que, por sua vez, revelou algo de mais grave: princípio de tuberculose.
Sentindo a gravidade do estado de saúde da noiva e que, por isso não seria aprovada pela Sociedade para o trabalho missionário, o que fatalmente acarretaria o cancelamento de sua própria indicação, o Doutor Kalley procurou imediatamente entrar em contacto com os diretores da Sociedade em Londres. Desobrigou-se de seus compromisso para com ela, propondo-se a indenizá-la de todas as despesas que ela houvesse tido com sua inscrição e com os estudos preparatórios na Universidade. A Sociedade, em 30 de janeiro, em vista dos fatos cancelou seu contrato com ele, admitindo que, "se em qualquer tempo ele sentisse ser de seu dever entregar-se à obra missionária em conexão com ela, seria dispensada a melhor atenção a qualquer pedido que ele julgasse próprio fazer".
No dia 2 de fevereiro foi celebrado o casamento de Roberto e Margarida em Paisley, na residência da genitora da noiva.O Doutor continuou, com recursos próprios, os estudos de Teologia e Medicina necessários no ministério missionário, pois tinha ainda no seu coração os caminhos do Oriente. Na turma de sua formatura, em 1º de maio de 1838, aparece também o nome de William Chalmers Burns, que conquistara a medalha de prata por sua aplicação.
Durante o verão daquele ano, em junho, julho e agosto, ficou evidente que a Srª. Kalley não suportaria os rigores do inverno que se vinha aproximando. Não somente ela, mas também uma de suas irmãs, Annie, precisavam transportar-se para uma região de clima mais ameno.
Lembrando-se da Ilha da Madeira, onde estivera alguns anos antes, e do clima salubérrimo que oferecia, o Doutor resolveu, de acordo com Margarida, que ali residiriam por algum tempo até que estivessem em condições de se transferirem para Cantão. A Srª. Crawford sentiu necessidade de acompanhar as filhas, e a outra filha menor, Elisabeth, também se juntou ao grupo. Tomaram passagem no navio Jane, barco a vela, veloz, de 356 toneladas, que zarpou de Greenock no dia 27 de setembro. A viagem transcorreu sem nenhum contra-tempo. Alguns passageiros assistiam aos cultos matutinos e vespertinos dirigidos pelo Doutor, que não encontrou, embora procurasse nenhum interesse da tripulação em ouvi-lo falar de assuntos religiosos.
No dia 11 de outubro atingiram a ilha. Não sendo possível o desembarque naquele dia, o navio ancorou ao largo e só no dia 12 fundeou na baía de Funchal. A tardinha, o Doutor e a família puderam desembarcar. Por pouco tempo, julgava ele, mas Deus o reteve ali por oito anos, num ministério pioneiro e difícil, a que o Dr. A. Bonar, a ele referindo-se na Assembléia Geral da Igreja Livre da Escócia, chamou de " o maior acontecimento das missões modernas".