terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Robert Reid Kalley (Infância e Juventude (1809 a 1838) - parte 3

No dia 5 de Dezembro viajou para Paisley, onde pediu a mão de Margarida em casamento. Era a jovem que havia conhecido em 1833. Sobre ela e seu pretendido enlace havia conversado com o secretário da Sociedade. Seria conveniente que ela ficasse por algum tempo em alguma instituição de ensino bíblico e missionário enquanto ele completava seus cursos adicionais no Hospital e na Universidade. A respeito de Margarida, o Doutor escreve:

Ela desejava ardentemente entrar para o serviço de Cristo, ou ensinando ou em qualquer outra atividade em que seus talentos pudessem ser aproveitados. Consente no casamento e sua mãe também.
É uma jovem bem capacitada para o trabalho missionário. Possui fina educação. Tem servido como secretária do pai em seus negócios.
Dotada de gênio muito alegre, é consagrada e tem visão da obra de Missões.
Quanto ao físico, não é muito robusta e não seria capaz, creio eu, de enfrentar as durezas de alguns campos missionários. Foi criada com muito conforto. Espero, porém, que, embora delicada, sua estrutura seja perfeitamente sã e se dê bem em clima suava.
Seus poderes intelectuais a capacitam para os trabalhos de tradução ou qualquer atividade que se relacione com o redigir ou escrever, como também com o ensino, direção de escolas etc
.
O consultório de Kilmarnock, assim com seus clientes, ficaram, após a venda, aos cuidados de um jovem médico, seu amigo, que mais tarde se tornaria também seu cunhado, pois veio a casar-se com Jane Kalley.
A 9 de janeiro de 1838 foi convidado para fazer uma palestra numa das reuniões da Sociedade Missionária da Escócia, onde falou sobre a China e a urgente necessidade da pregação do evangelho no Extremo Oriente da Ásia. Essa palestra constitui-se na chamada divina para um dos seus ouvintes, que resolveu oferecer-se ao Senhor para o trabalho missionário naquele país. Foi o renomado missionário William Chalmers Burns, que realizou uma obra de incalculável valor na abertura de preciosas portas de penetração do evangelho naquele território. É interessante saber que a vida do Dr. Burns, sua grande piedade cristã e a sua amizade muito ajudaram Hudson Taylor em seu abençoado ministério. Taylor, por sua vez, se tornaria grande amigo, mais tarde, de Kalley e de D. Sarah, sua segunda esposa, fazendo o sermão de despedida no dia do enterro do Doutor, em 24 de janeiro de 1888, e estando entre os fundadores, ao lado de D. Sarah, Rev. James Fanstone, Dr. João Gomes da Rocha e mais oito companheiros, de Help for Brazil Mission, que sob inspiração de D. Sarah e do Rev. Fanstone se organizou em Edimburgo, em 1892.
Em uma reunião de despedida a seus amigos e clientes, solicitou encarecidamente suas orações, tanto na Igreja como nos lares, por ele e pela China. Mal supunha, porém, que os desígnios de Deus, que chama seus obreiros e lhes designa os campos, não o levariam para a China, conforme seus projetos pessoais.
Miss Margarida, de seu lado, preparava-se também para os deveres de esposa e auxiliar do missionário. Ela mesma sentia o apelo das Missões. O ministro da Igreja Escocesa, pastor de sua igreja em Paisley, escreveu a seu respeito:
Fora batizada por mim e criada na minha congregação. Assistiu às classes bíblicas para instrução da juventude por vários anos. Assim estava bem versada no conhecimento das Escrituras. É profundamente evangélica e possuidora de uma alma piedosa. Seu coração está fixo na obra missionária, para a qual a considero bem capacitada.
Nessa preparação para a obra ao lado do Doutor, mudou-se para Glasgow, onde pretendia tirar alguns cursos. Hospedou-se em casa de amigos. Era no mês de janeiro, tempo de frio muito intenso naquela região. Uma noite, alguém, por descuido, deixou aberta uma janela. O resultado foi Miss Margarida contrair uma forte pneumonia, que, por sua vez, revelou algo de mais grave: princípio de tuberculose.
Sentindo a gravidade do estado de saúde da noiva e que, por isso não seria aprovada pela Sociedade para o trabalho missionário, o que fatalmente acarretaria o cancelamento de sua própria indicação, o Doutor Kalley procurou imediatamente entrar em contacto com os diretores da Sociedade em Londres. Desobrigou-se de seus compromisso para com ela, propondo-se a indenizá-la de todas as despesas que ela houvesse tido com sua inscrição e com os estudos preparatórios na Universidade. A Sociedade, em 30 de janeiro, em vista dos fatos cancelou seu contrato com ele, admitindo que, "se em qualquer tempo ele sentisse ser de seu dever entregar-se à obra missionária em conexão com ela, seria dispensada a melhor atenção a qualquer pedido que ele julgasse próprio fazer".
No dia 2 de fevereiro foi celebrado o casamento de Roberto e Margarida em Paisley, na residência da genitora da noiva.O Doutor continuou, com recursos próprios, os estudos de Teologia e Medicina necessários no ministério missionário, pois tinha ainda no seu coração os caminhos do Oriente. Na turma de sua formatura, em 1º de maio de 1838, aparece também o nome de William Chalmers Burns, que conquistara a medalha de prata por sua aplicação.
Durante o verão daquele ano, em junho, julho e agosto, ficou evidente que a Srª. Kalley não suportaria os rigores do inverno que se vinha aproximando. Não somente ela, mas também uma de suas irmãs, Annie, precisavam transportar-se para uma região de clima mais ameno.
Lembrando-se da Ilha da Madeira, onde estivera alguns anos antes, e do clima salubérrimo que oferecia, o Doutor resolveu, de acordo com Margarida, que ali residiriam por algum tempo até que estivessem em condições de se transferirem para Cantão. A Srª. Crawford sentiu necessidade de acompanhar as filhas, e a outra filha menor, Elisabeth, também se juntou ao grupo. Tomaram passagem no navio Jane, barco a vela, veloz, de 356 toneladas, que zarpou de Greenock no dia 27 de setembro. A viagem transcorreu sem nenhum contra-tempo. Alguns passageiros assistiam aos cultos matutinos e vespertinos dirigidos pelo Doutor, que não encontrou, embora procurasse nenhum interesse da tripulação em ouvi-lo falar de assuntos religiosos.
No dia 11 de outubro atingiram a ilha. Não sendo possível o desembarque naquele dia, o navio ancorou ao largo e só no dia 12 fundeou na baía de Funchal. A tardinha, o Doutor e a família puderam desembarcar. Por pouco tempo, julgava ele, mas Deus o reteve ali por oito anos, num ministério pioneiro e difícil, a que o Dr. A. Bonar, a ele referindo-se na Assembléia Geral da Igreja Livre da Escócia, chamou de " o maior acontecimento das missões modernas".

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Robert Reid Kalley (Infância e Juventude (1809 a 1838

Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. (Isaías 53:5)

Robert Reid Kalley era escocês, natural de Mount Florida, nos arredores de Glasgow, condato de Lamark, onde nasceu no dia 08 de setembro de 1809. Seus pais foram Robert Kalley, abastado negociante na cidade, e Jane Reid Kalley, que pertenciam à Igreja Presbiteriana da Escócia e o fizeram batizar aos 38 dias de idade, na igreja local(3).
Era o segundo casamento do pai, cuja primeira esposa viveu pouco tempo a seu lado, deixando uma filhinha, de nome Jessie Macredie Kalley, nascida em fevereiro de 1805. Da união de Robert e Jane vieram dois filhos: Jane Dow Kalley, nascida em 24 de abril de 1808, e Roberto, no ano seguinte(2).
Não contava ainda o menino um anos de idade quando lhe morreu o pai, anos mais tarde, Jane, que ficara com as três crianças, contraiu novas núpcias com o Sr. Davi Kay, viúvo também e também negociante em Glasgow, pai de quatro filhos: Mary Kay, nascida em 12 de outubro de 1796, que ajudou a criar os sois menores, Jane e Roberto; James Kay, que emigrou para os Estados Unidos; AnnKay, de quem não se tem notícias, e Macredie Kay, que, com sua irmã Mary, mais tarde prestou valiosos serviços a seu irmão de criação quando missionava na Madeira(3).
Davi Kay era da mesma igreja de Jane e a nova família, com seis crianças, pois Jessie parece ter ido residir com os avós maternos, viveu em perfeita harmonia. Tanto Davi como Jane consideravam os enteados como verdadeiros filhos(4).
A respeito do padrasto, o Dr. Kalley escreveu muitos anos depois:
" Durante minha infância e mocidade, fiquei debaixo da tutela de um homem de valor, com quem minha mãe se casou depois da morte de meu pai. Mesmo depois da morte dela, quando eu era ainda uma criança, ele foi para mim um verdadeiro pai. Ainda que eu desse muito trabalho e lhe fosse causa de muitas preocupações e tristezas, ele perseverou comigo, dando-me educação moral e religiosa por seus exemplos e preceitos, com muita oração a Deus"(5)
ainda depois de seu regresso definitivo do Brasil, escrevendo em 1880 a seu sobrinho, o Dr. Robert Kalley Miller, filho de Jane, lembrava-se da grande dívida de gratidão que unia à memória do padastro e de sua filha, Mary Kay, pela bondade e pelo carinho com que o trataram, orfão de pai e, depois, da mãe(6).
Pouco se sabe a respeito da meninice de Kalley, a não ser o episódio de, aos oito ou nove anos, tomando banho no rio Clyde com outros companheiros , haver-se deixado arrastar pela correnteza e quase haver morrido afogado, não fora o providencial socorro de alguém que, vendo-o em tais apuros, se atirou à água e o salvou de morte quase certa(7).
Depois do curso primário e preparatório na Rennie School e no liceu ou ginásio de Glasgow Grammar School, onde o latim e a oratória se tornaram as disciplinas de sua predileção, matriculou-se em 1825 na Faculdade de Medicina e Cirurgia, tendo apenas dezesseis anos. Tanto o padastro como o avô materno preferiam vê-lo preparar-se para o ministério da Igreja, mas Roberto, já imbuído de idéias materialistas e ateístas, tomou rumo diferente(8).
Sendo ateu - escreveu ele ao Sr. Wilby em 15 de novembro de 1843, explicando a razão por que havia contrariado os desejos de David e do avô e escolhido como carreira a medicina e não o ministério eclesiástico - sendo ateu, ao escolher a carreira, não me vi com coragem de pregar e ensinar aquilo que eu considerava ser uma porção de mentiras. Abandonei, pois, toda idéia de estudar teologia, e escolhi a medicina(9).
Em outra ocasião, o Dr. Kalley expôs seus sentimentos naquela época da seguinte maneira:
Um coração mau e más companhias varreram tudo. As especulações da Filosofia e da Ciência (falsamente chamada) contrariavam todos os esforços de meu padrasto e cegaram o meu entendimento de tal maneira que não me era mais possível crer na existência de Deus. Parecia-me uma coisa nobre ser libertado da superstição e do fanatismo que a crença impunha à alma humana. Aqueles que faziam profissão de religião, eu considerava imbecis, ou, então embusteiros, e desprezava-os a todos. quando moço ainda, estudava várias ciências, admirava as maravilhas dos seres microscópicos, meditava na distância, na magnitude e na velocidade dos orbes. Vendo tudo isso, eu me achava impossibilitado de abraçar a idéia de um Deus, um Ser Supremo. Por muitos anos não cri em sua existência. Parecia-me impossível crer na real existência de um Ser, dotado de vida eterna, cuja ciência compreende tudo no universo e cujo poder impele os astros e, ao mesmo tempo, forma os delicadíssimos membros de um animalículo microscópico(10).
Havia, na verdade, outro motivo agindo secretamente, mas com grande efeito em seu coração e a respeito do qual ele, mais tarde, confessa:
A minha aversão e repugnância às leis do Criador sugeriram-me o desejo ardente - que não haja Deus - tudo isso para que eu desse lugar ao pecado sem temer as conseqüências e penalidades(11).
assim, com tais disposições mentais e espirituais, entrou na carreira escolhida, continuando por muito tempo em seu cetiscismo e em sua oposição declarada contra as Sagradas Escrituras e todas as doutrinas cristãs.(Continua)

Robert Reid Kalley (Infância e Juventude -1809 a 1838)

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Essas circunstâncias históricas minaram e acabaram por destruir o seu ateísmo. Deus era real, não apenas como realidade subjetiva na experiência de cada crente, mas real e poderoso, supremamente operante nos fatos da história do mundo e da natureza que criara. em seu diário, descrevendo as circunstâncias que o haviam levado a libertar-se "das superstições, do fanatismo e da ignorância crass" representados pela "doutrina de qualquer divindade", diz haver na sua mocidade aplicado sua inteligência ao estudo de diversas ciências, investigando com o auxílio do microscópio e do telescópio, algumas das maravilhas da Natureza, decidindo, por esses estudos e pesquisas, " que era impossível a um único Ser existir eternamente e tomar conhecimento de cada objeto na terra". Agora, a vida e a experiência pessoal daquela velhinha e os significados nacionais da vida de todo um povo através dos séculos encontram, para ele uma explicação que se impões: existe, sim, este Ser, que além de toda a capacidade de pesquisa através de microscópios e telescópios e além de toda compreensão lógica e científica da mente humana, governa a vida e os fatos da vida do homem individual e das nações. As profecias bíblicas dão provas disso.

Quando senti, satisfeito - falou ele mais tarde, em 21 de agosto de 1845, perante a Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana Livre da Escócia - quando senti, satisfeito que há um Deus, que este Livro (apontando para a Bíblia) é de Deus, então senti também que cada cristão é chamado a entrar naquele campo de atividade em que melhor possa usar para Deus todos os talentos que ele lhe deu. E, quanto a mim, tenho pensado de que maneira, como médico cristão, posso melhor servir ao Filho de Deus.
Renunciando, pois, ao ateísmo e confessando a Cristo como seu Salvador e Senhor, reconciliou-se com a Igreja e foi admitido a comunhão. Nas visitas médicas e nas consultas em que recebia os clientes, não somente procurava, daí por diante, tratar do corpo e das enfermidades físicas, mas conversar também sobre as necessidades da alma, usando as Escrituras para leitura e meditação. A classe de moços, agora aumentada, passou a reunir-se à noite na Igreja, após o culto divino. Uma outra classe, de adultos, foi iniciada em sua residência e também uma outra, para os clientes mais pobres, que se reunia às quintas-feiras, numa das dependências do templo. Tinha, então 26 anos. A conversão, o estudo meticuloso das Escrituras e a dedicação de seu futuro a Deus deram-lhe o sentido, que há tanto tempo procurara, das razões e do propósito de sua vida. Robert Reid Kalley encontrara, por fim o seu Senhor(20).
Seus pensamentos voltaram-se para o vasto campo missionário. Da Grã-Bretanha, da Escócia, da América, da Morávia e de muitos países pioneiros haviam saído para levar o evangelho ao Oriente e a África, às distantes ilhas da Polinésia, nos mares do Sul. Kalley contemplou a grande necessidade da China, com uma população enorme sem o conhecimento de Cristo. Acompanhava, com vivo interesse, os relatórios dos trabalhos evangelísticos e de assistência médica dos missionários naquele país. Leu em uma revista da Sociedade Missionária de Londres um apelo aos médicos cristãos para dedicarem sua vida e seus talentos ao serviço da humanidade sofredora do oriente, pois era a porta principal por onde a Palavra de Deus poderia alcançar, de modo objetivo, aquelas populações. Entendeu que esse apelo vinha diretamente a ele, de Deus naquelas circunstâncias. Comunicou a Miss Kay os seus propósitos e ela lhe escreveu, em carta de 18 de julho de 1835:
Querido Roberto:
Estou muito alegre por saber que estás tão preocupado na instrução da juventude... O teu contacto com esses casos (as pessoas que buscavam a salvação) será um meio de encorajamento a ti mesmo servirá para firmar-te bem na doutrina da Graça divina.
Quanto à tua idéia de estudar para o ministério, não digo nada contra, pois conheço os teus motivos desinteressados e creio que aquele que é a grande Cabeça da Igreja pode perfeitamente conceder-te os dons necessários e abrir-te a porta, se tiver trabalho dessa natureza para ti.
Falas de ser missionário. Não há dúvida que há muito trabalho nesse campo, especialmente nos bairros pobres. Sem dúvida o salário é pequeno, ou nenhum. Mas visto te haveres dedicado com tudo o que tens no serviço de Cristo, nada do que gastares - ou em tempo ou em dinheiro -será perdido. Deves continuar estudando em bons livros, que melhor de instruam nas doutrinas de Deus.
Papai me pede para dizer-te que está bem impressionado e manda aconselhar-te que tenhas cuidado de não ler os teus sermões.


Em outra carta, pouco depois, Miss Kay o exortava:
Deus deve receber toda a glória, não somente por ter implantado em nosso coração a graça divina, porém também por toda ação conseqüente dessa Graça em nós. Não existe o exercício da fé, ou manifestação do amor, a não ser pela influência imediata do Espírito Santo - tão dependentes que somos de suas ações.


Com esperança de ser enviado à china, o Doutor, em 1836 à Junta Missionária da Igreja da Escócia oferecendo-se para servir como médico-missionário e evangelista em Cantão, naquele país, continuando o trabalho que Robert Morrison deixara interrompido por seu falecimento em 1834. O oferecimento não foi aceito, não só pelos muitos outros compromissos que Junta já possuía como também pelo de não estar a China incluída em seu campo missionário. Não havendo possibilidade de trabalhar no campo estrangeiro ligado à sua própria Igreja, Kalley dirigiu-se, então à Sociedade Missionária de Londres. A princípio, a oferta não foi bem aceita, mas logo depois, em 1837, a Sociedade resolveu enviar um médico-missionário à China. O Doutor alegrou-se com essa oportunidade que lhe aparecia. Entrou mais uma vez em correspondência com a Sociedade, pedindo informações quanto às exigências dela para a aceitação de sua candidatura. Foi enviado um memorandum, onde se salientavam os seguintes pontos:
A Sociedade ainda não havia enviado médicos, como tais, ao campo missionário, mas, agora, estava encarando a necessidade de suprir com essa especialidade, seus trabalhos no oriente.
A teologia é indispensável. Para a China e a ìndia é necessário que o candidato possua também uma preparação em letra clássicas, assim como em artes e ciências.
Para a África e Oceania, além do acima mencionado, um bom treinamento em trabalhos manuais.
As dificuldades são grandes. Mas a grande montanha oferecida por elas, pelo poder da verdade e do Espírito Santos pode tornar-se planície de grandes vitórias no evangelho.
O candidato deveria inscrever-se oficialmente, apresentando algumas cartas de referência(23).
Conseguida a inscrição, com a apresentação das cartas de referência exigidas, e depois de examinado pelo Comitê de recepção na cidade de Londres, no dia 7 de novembro de 1837 foi o Doutor inscrito como candidato ao trabalho na China, com previsões para partir de 1839. Aconselhado pelo Comitê, voltou à Universidade de Glasgow para "desenvolver seus conhecimentos em alguns ramos da ciência médica e em teologia". Começou também um curso das línguas grega e hebraica, para melhor comparar os textos da versão inglesa das Escrituras com os originais. Vendeu sua casa e seu consultório médico em Kilmarnock, procurando desembaraçar-se de seus compromissos locais, para ficar mais livre em seus preparativos de viagem.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Rios de Babilônia

Rev. António de Sousa Ramos

No seu constante labor evangelístico, este nosso irmão obreiro, pastor da Igreja Evangélica Rosiense e da Congregação Pontesorense, trabalha activamente na sua região, que abrange uma parte de cada uma das províncias da Estremadura, Alentejo e Beira Baixa.
Muitas vezes tem difficuldade em attender a todas as localidades de onde pedem a sua comparencia. Para obviar a estas dificuldades o nosso irmão está estudando um plano que, si o puder realizar em boas condições, lhe facilitará grandemente a sua deslocação de umas terras para as outras. Que assim seja.
Consultado o nosso estimado superintendente sobre tal plano,partirá em breve o Rev. Santos e Silva para o Rossio ao Sul do Tejo, para, de perto, poder estudar devidamente o assumpto e dar a sua autorisada e indispensavel opinião.

15-11-1935

Ilha da Saudade

Como és assim florida, ó terra linda, onde eu passeio os olhos tão gulosos?!
porque te vestem mantos caprichosos de verde moço, em profusão infinda?

Já velho p'ra cantar, eu canto ainda com gratidão por mil serenos gozos descidos
dos teus montes nebulosos sobre a minh'alma, que a belleza guinda.

Desço os valles humbrosos, e estremeço encantado,
pois tudo desconheço scenário que n'alma se me grava.

Teus ternos filhos, em paiz distante,
choram por ti... tens rócio fecundante,
ilha regada de Saudade! Brava!

12-2-1934
Eduardo Moreira

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A CARTA

A minha Despedida

Ao sair deste mundo, despeço-me de todos os meus parentes, amigos e vizinhos, e de cada um em particular, com o vivo desejo de que todos possam gozar da mesma felicidade espiritual e mesmo da temporal que, ainda no meio de tantas misérias humanas, me foi dado desfrutar.
Com todos pude viver em paz, e a todos agradeço a estima que me dispensaram.
Tendo alcançado, ainda em verdes anos, pelo favor de Deus, o conhecimento de Cristo, a estável e eterna Verdade, foi por esta que fiquei livre da escravidão da mentira, dos vícios e da vida perdida que levava, e foi pela direção espiritual que recebi do puro Evangelho do divino Mestre, que procurei sempre conduzir-me, desde a mocidade até a velhice.
Assim me livrou de muitos perigos e de grandes males deste mundo de pecado, e me dispensou inúmeras bênçãos de proteção e socorro em tempo oportuno, Aquele que é o Altíssimo Deus, Criador e Doador de todas as coisas.
Este mundo de egoísmo, ambição e ódio, carece mais e mais, cada dia, de vidas transformadas pelo poder do Evangelho de Cristo e pelo seu divino Espírito, para que haja luzes que alumiem aos que estão nas trevas, e sal que preserve as almas da corrupção e da perdição.
Portanto, ao despedir-me de vós, meus caríssimos, rogo a cada um que renuncie a todo seu passado e a toda e qualquer falsa justificação e aceite a única e verdadeira justificação pelo sacrifício propiciatório de Cristo, crendo nEle como o bendito e perfeito Salvador e Perdoador, que nos livra da condenação e nos dá a posse da vida eterna, a vida sem mescla de dor ou de morte, que Deus destinara desde o princípio para as suas criaturas humanas.
Lede ou mandai ler o Novo Testamento do Senhor Jesus Cristo. Jesus diz: “Examinais as Escrituras”... “Errais, não sabendo as Escrituras nem o poder de Deus”.
Adeus, meus caríssimos, não percais mais tempo, não desprezeis o grande amor de Deus: aceitai a Jesus e segui-O até o fim, para que possais ter uma eternidade feliz.

José Augusto dos Santos e Silva


No dia 15 de fevereiro faz 71 anos que o Rev. José Augusto dos Santos e Silva partiu para estar com o Senhor “face a face”. Sentindo que Deus o estava chamando, escreveu ele, sob o título acima, a mensagem transcrita.

José Augusto Santos e Silva


Santos e Silva nasceu em Abrantes no dia 16 de Novembro de 1863. Seu pai era um mestre de obras, que morreu num desastre de trabalho.Trabalhou como gerente da Empresa Literária de Lisboa, ao mesmo tempo em que o famoso evangelista Henrique Maxwell Wrigth padecia de uma grave doença.Wrigth de regresso do Brasil viu-se impedido de dar seguimento à sua missão na Ilha de S.Miguel, iniciada em 1880, pelo que propôs a Santos e Silva ocupar a direcção do trabalho pelo espaço de um ano.
Para Santos era uma reviravolta na sua vida, uma verdadeira luta íntima o ter de se decidir. Santos era um tipógrafo, especializara-se na revisão e tivera por isso a oportunidade de privar com ilustres escritores como Manuel Pinheiro Chagas, Eduardo Vidal, António Enes e outros, o que lhe havia aumentado os seus interesses culturais. Porém quando Deus chama não há como dizer não.Aquele convite de um ano foi prolongado até 1897 (ano da organização da minha igreja), prestando ele então, no regresso a Lisboa, o seu auxilio a Santos Carvalho, por algum tempo. Depois, o pastor Santos e Silva aceitou, sob certas condições, o ministério interino da Igreja Presbiteriana, e aí se demorou de 1898 a 1907. Santos era um homem profundo nas Escrituras, o seu ministério foi aí abençoado em muitas almas, como o fora nos cincos anos em que permanecera em Ponta Delgada.
O ano de 1898 foi para ele, como também para o Evangelismo Lisbonense, de grande actividade, com a abertura da casa de oração “da Estefânia”, pela Missão Metodista em Portugal, e a fundação da União Cristã da Mocidade, de que ele foi o iniciador e principal organizador, valendo-lhe de muito os conhecimentos adquiridos antes da sua conversão. Como presidente da direcção e mais tarde da assembléia geral, teve aí útil contacto com a juventude, durante uns trinta anos, em colaboração com Roberto Moreton, Rodolfo Horner e outros mais.
Em 1907, como a Missão Metodista não pudesse continuar a manter o seu trabalho em Lisboa, que estava espiritualmente próspero, mas não em condições de arcar com sustento próprio, a Igreja organizada em 1900 tomou a resolução que lhe foi proposta, de chamar o Pastor Santos e Silva para guiar em nova fase, de regime congregacional, com o auxílio que lhe era prometido por elementos da Igreja Evangélica Fluminense.
Durante o longo pastorado da Igreja Lisbonense, 33 anos de grande actividade na obra local, como na de numerosas missões que fundou, ou de que tomou a responsabilidade espiritual, trabalhou sob os auspícios da Sociedade Brasileira de Evangelização, mais tarde Missão Evangelizadora do Brasil e Portugal, em cuja superintendência veio a suceder a Maxwell Wright.
O edifício na rua de Febo Moniz, onde hoje é propriedade da igreja presbiteriana se deve muito a ele. Fundou a Beneficência Evangélica, onde naquela época se dava atenção devida às viúvas.Fundou a Igreja evangélica Ajudense, como a Figueirense, a Chelense.Foi pastor interino das igrejas de Ponta Delgada , Rossiense, Pontessorense, Termas de S. Pedro do Sal e outras.
Homem modesto para quem pôde ter o privilégio de conhecê-lo diz Eduardo Moreira. Um operário até ao fim.Aos 77 anos, a 15 de fevereiro de 1940 faleceu. Depois de muitas enfermidades por que passou, ele, seus filhos e sua esposa. Juntando isto às incompreensões da época, temos um homem que soube manter-se firme e deixar algo para as futuras gerações, que infelizmente, nós, não demos continuidade.
José Augusto dos Santos e Silva foi batizado em 29-5-1881 pelo o Rev. Manuel dos Santos carvalho na Igreja Evangélica da Calçada do Cascão. Pastoriou durante 12 anos a Igreja Evangélica Presbiteriana de Lisboa. Simultaneamente aceitou o pastorado na Igreja Evangélica Lisbonense em 12-1-1908 quando da sua organização pelo sistema de governo congregacional. Fez várias viagens de evangelização no Continente, nas ilhas e no Brasil tendo fomentado neste país, irmão uma campanha para a construção do actual templo da rua de Febo Moniz, sendo lançada a primeira pedra em 11 de julho de 1923. Promoveu a inauguração do seu pavimento principal em 8 de Junho de 1925 em cujos dois primeiros cultos assistiram 1.000 almas.Inaugurou toda a igreja em 13 de junho de 1926. Compôs os hinos 504 e 579 e o coro XXVII último da colecção 248 dos salmos e Hinos. Fundou o jornal “O Mensageiro”. O seu texto favorito encontra-se em João 9:4. A Deus toda a Honra, Glória e Majestade.